“Por apenas US$ 49, você pode transformar seu Mac em um PlayStation.” Foi com essa frase que Steve Jobs surpreendeu a plateia durante o evento Macworld 1999.
O anúncio fazia parte da apresentação de um emulador revolucionário, que permitia rodar jogos do PlayStation diretamente em um Mac. Só tinha um problema: a Sony não gostou nada da ideia e levou o caso para os tribunais. 😬⚖️
A jornada para criar o emulador
Apesar do grande impacto, o emulador não foi criado pela Apple. Seu verdadeiro criador era a empresa Connectix, que já tinha um longo histórico com os produtos da Apple.
Desde o final dos anos 80, a Connectix desenvolvia soluções inovadoras para os Macs. Em 1989, por exemplo, lançou o Virtual, o primeiro sistema de memória virtual para os computadores mais modernos da época, como o Macintosh IIx, IIcx, SE/30 e o Macintosh II, todos equipados com os processadores Motorola 68030 e 68020.
O que parecia uma revolução no mundo dos games acabou virando uma grande batalha judicial. Mas essa história ainda tem muitos capítulos…

A ideia por trás do software da Connectix era simples, mas poderosa: permitir que computadores com pouca memória RAM rodassem programas mais exigentes, usando parte do disco rígido como memória virtual.
O começo do emulador de PlayStation
Chegamos a 1998. Nesse ano, a Connectix começou a trabalhar em um emulador capaz de rodar jogos do PlayStation no Mac. A ideia era ambiciosa e prometia abrir um novo mundo de possibilidades para os gamers.
O grande mestre de cerimônias
1998 também foi um ano marcante para a Apple. Steve Jobs já estava de volta à empresa que ajudou a fundar e, com o lançamento do iMac G3, iniciou uma era de inovação e sucesso. Nos anos seguintes, viriam produtos que mudariam a história da tecnologia, como o iPod, o iPhone e o iPad.
A Apple estava renascendo — e no meio desse turbilhão de mudanças, um PlayStation rodando no Mac parecia a cereja do bolo… ou quase isso.
Os bastidores da criação do emulador
Para dar vida ao seu emulador, a Connectix começou adquirindo um PlayStation e extraindo sua BIOS para entender melhor o funcionamento do console. Usando software de depuração, a equipe analisou cada detalhe do sistema para garantir que os jogos rodassem perfeitamente no Mac.
A partir daí, uma série de testes foram realizados para integrar a BIOS ao Virtual Game Station (VGS), o emulador que estavam desenvolvendo. No comando dessa missão estava o engenheiro Aaron Giles, que liderou todo o processo técnico para transformar essa ideia ousada em realidade.
O resultado? Um Mac capaz de rodar jogos do PlayStation sem precisar do console original. Uma inovação incrível — mas que logo despertaria a ira da Sony… ⚡🔥
Uma tentativa (frustrada) de acordo com a Sony
Segundo o livro Software Law and Its Application, de Robert Gomulkiewicz, a Connectix tentou fazer as coisas do jeito certo. Antes de finalizar o desenvolvimento do Virtual Game Station (VGS), a empresa entrou em contato com a Sonypara solicitar assistência técnica.
As duas empresas chegaram a se reunir em setembro de 1998, mas a Sony não quis conversa e recusou qualquer tipo de parceria. Mesmo sem o aval oficial, a Connectix seguiu em frente e finalizou o emulador entre dezembro de 1998 e janeiro de 1999.
O grande anúncio na MacWorld
Foi então que, no dia 5 de janeiro de 1999, durante a MacWorld, Steve Jobs apresentou o VGS ao mundo. O palco da Apple virou holofote para o emulador da Connectix, mostrando que o Mac agora podia rodar jogos de PlayStation.
O público vibrou com as inovações — mas a Sony, do outro lado, ficou furiosa. E a história estava apenas começando…
Sob fortes aplausos, Steve Jobs apresentou o Virtual Game Station (VGS) da Connectix. Com entusiasmo, ele explicou que, por apenas US$ 49, qualquer usuário de Mac poderia rodar os jogos do PlayStation diretamente no computador — sem precisar do console da Sony.
A plateia adorou a novidade, mas nem todo mundo ficou feliz com o anúncio
Para deixar a demonstração ainda mais empolgante, Phil Schiller — um dos executivos mais conhecidos da Apple — subiu ao palco para mostrar o Virtual Game Station em ação.
Na sua apresentação, ele rodou Crash Bandicoot em seu Macintosh. O jogo funcionou, ainda que com alguns travamentos, mas isso não impediu Schiller de elogiar o software da Connectix, chamando-o de “uma ideia fenomenal”.
O público ficou animado, mas a Sony? Nem um pouco
Rápido, prático e pronto para jogar
A Connectix vendia o Virtual Game Station (VGS) como uma solução simples e eficiente para rodar jogos de PlayStation no Mac. Na página oficial do produto, a empresa destacava a facilidade de uso:
“O Connectix Virtual Game Station traz alguns dos jogos mais populares para o seu Macintosh com simplicidade ‘pop and go’. Para jogar, basta inserir o seu CD de jogo PlayStation. O software AutoLauncher incluído detecta o CD e executa automaticamente o Connectix Virtual Game Station. Você nem precisa clicar com o mouse.”
Entre os jogos compatíveis estavam grandes sucessos como Doom, FIFA 97, Ridge Racer, Tekken 3, Tomb Raider 1 e 2, Time Crisis, GTA, entre muitos outros.
O VGS também suportava controles USB, tornando a experiência ainda mais próxima de um console real. Um dos modelos recomendados era o Gravis GamePad Pro USB, que podia ser adquirido junto com o emulador por US$ 14,99.
Era uma solução acessível, prática e perfeita para quem queria transformar seu Mac em um PlayStation. Mas essa história ainda teria um desdobramento explosivo…

A batalha nos tribunais
Durante a própria MacWorld, o entusiasmo da Connectix rapidamente deu lugar a uma preocupação séria. Segundo Aaron Giles, a empresa logo percebeu que estava em apuros quando advogados da Sony apareceram em seu estande. 😬

A Sony não gostou nada da ideia de um PlayStation rodando no Mac sem sua autorização — e estava disposta a levar o caso para a justiça.
Mas a Connectix não parou por aí. Além da versão para Mac, a empresa também chegou a desenvolver uma edição do Virtual Game Station para Windows, ampliando ainda mais o impacto do emulador.
O confronto estava apenas começando, e a briga nos tribunais prometia ser intensa.
A Sony levou o caso para os tribunais, e inicialmente, a Connectix saiu vitoriosa. No entanto, a gigante japonesa conseguiu uma liminar que impedia a venda do emulador enquanto recorriam da decisão.
A incerteza sobre a liminar fez com que a Connectix deixasse de investir tanto tempo e recursos no desenvolvimento do produto. No final das contas, o caso foi encerrado com um acordo entre as empresas: o Video Game Station foi vendido para a Sony, e o software foi descontinuado.
E quanto à Connectix? Bem, com o crescente interesse por emulação e os avanços que a empresa vinha fazendo, especialmente com o Virtual PC, um concorrente do Workstation da VMWare, a Microsoft acabou comprando a companhia em 2003.
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